a dona dos pensamentos

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Devaneios

Esqueceu o que realmente queria dizer..

Ou não teve a coragem necessária pra tanto.
Passou algumas horas formulando, mas as palavras simplesmente sumiram de repente.
Ela já não entendia nada dos sentimentos, nem de como lidar com eles.
Seu mundo era um tanto imaginário e fantasioso, nem de longe parecido com o mundo real.
Mas alguma coisa, tinha mudado, disso ela tinha certeza.
Talvez estivesse a beira da loucura, talvez estivesse acreditando em coisas que não existem.
Mas não estava nem um pouco preocupada no preço que seria cobrado por suas ilusões.
Sonhava dormindo, mais ainda acordada, tentava adivinhar o que os animais falavam, o que iria acontecer e qual seria o dia em que alguém andaria ao seu lado de mãos dadas.
Mas era tudo suposição e a maioria não se realizava.
Os outros não entendiam como ela ainda não tinha entrado em depressão, não entendiam como seu sorriso ainda estava ali.
No mundo deles era loucura, no mundo dela era otimismo.
Sua alma ganhava uma nova cor a cada dia.
Ela aprendia com as coisas mais tolas.
Ela cantava alto, ria sozinha, vivia em um mundo distante, estava sempre perdida.
Ela sentia sim.. que tudo talvez pudesse ser diferente, sentia que o impossível pode existir, sentia que não deveria desistir de pessoas importantes, sentia-se na obrigação de arriscar.
Então ela fez, apostou tudo que tinha, cruzou os dedos e esperou de olhos fechados..
Quando abriu, seu mundo já não era só seu, agora tinha outros imigrantes, havia companhia.

Mais um dia.

Parou instintivamente o que fazia, deu uma boa olhada na mesa a sua frente. Transbordada de processos, intimações, carimbos, letras e números embaralhados, envelopes lacrados, documentos a distribuir, lugares aonde ir, telefone tocando, motoboy chegando..

Agora ela não fazia a mínima idéia da razão pela qual uma simples cara feia de um superior despertava constantemente tanto medo, não sabia por que queria diariamente arrancar os cabelos, ou simplesmente sumir em alguns instantes, ficava extremamente estressada e levava seus dias exaustos e pesados para casa, onde de mau-humor se trancava em seu quarto e apenas apagava.
No dia seguinte, dormia mais que o alerta do despertador, no caminho para a escola inventava uma boa desculpa para mais um dia de atraso, não queria saber de matemática, muito menos de física, queria contar para sua melhor amiga os absurdos de seu dia de trabalho, o quanto estava cheia de tudo e as constantes fantasias de um dia fugir de tudo isso..
A aula acabava, lá estava ela pelas ruas aflita, correndo pra chegar a tempo em casa de ao menos se trocar, quem sabe almoçar se sobrar uns minutinhos, se sua mãe estiver dormindo, terá que caminhar umas tantas quadras e pegar o ônibus que sempre acaba por atrasá-la, chegando então, mais uma cara feia do patrão, mas como podia questionar ?
Quando ela reclamava escutava sempre as mesmas coisas, porém as vezes um pouco mais formulada, “ Essa é a vida, tem que se acostumar, eu passo por isso todo dia, e blábláblá..”
Neste instante em que parou, ela olhou pra tudo aquilo, pensou no quanto estava se desgastando e nas coisas que botava em cheque nesta rotina. Por que ficar tão tensa e deixar que um mero problema atinja sua tranqüilidade, por que não ver o que de bom vai levar de tudo isso? As pessoas tem seus dias em que tudo parece terrivelmente errado, em que não estão dispostas a receber ninguém com um sorriso e não é por isso que você vai enlouquecer e achar que seu dia também foi por água a baixo.
É hoje eu posso dizer que tive um dia bem difícil sim, mas enquanto descia aquelas longas escadas ligando desesperada pra minha mãe me buscar, pois não tinha almoçado direito e aquela correria simplesmente acabou comigo, ela não atendia, eu parei um segundo, já tava meio tonta com tanto estresse, daí olhei o céu, é o meu termômetro do humor, se estivesse fechado, com nuvens carregadas e sem nenhuma estrela, eu teria certeza que não era um bom dia, mas quando olhei parecia um verdadeiro quadro, tive vontade de emoldurar e levar para casa.. A fusão do entardecer com a noite, de um lado duas estrelas perdidas, e do outro um alaranjado, com algumas nuvens pequenas, em formato de algodões.
Não me contive, o sorriso tem vida própria, escolhe quando quer aparecer, ele sabe o que merece sua ilustre presença, e aquele instante merecia um belo sorriso.
De repente ficou tudo mais leve, a palmeira balançava as folhas, os carros congestionavam as ruas, a fila do ônibus já estava grande, mas tudo aquilo pareceu não importar.Ela sabe que vai sentir saudades, de cada pessoa que conheceu, das piadas diárias, da correria, das confusões, das festinhas sempre desorganizadas, de pegarem constantemente em seu pé, dos passeios pelos corredores, de suas voltas solitárias observando o céu, do tumulto do ônibus, das suas tardes sempre muito ocupadas e corridas. Vai sentir falta de cada pessoa, por mais que mal falasse com ela, porém algumas são relativamente mais importantes, pois estavam sempre ali do lado, rindo, chorando, brincando, ajudando..
Que ironia essa vida.
Mas sua mente precisa de uma folga, precisa de um equilíbrio, de um descanso da correria.
É seu ultimo ano na escola e ela não quer ter a lembrança dos momentos em que não esteve presente. Ela quer lembrar de cada segundo e se ver nitidamente presente em todos.
Quer guardar estes três longos anos corridos em uma caixa de recordações e poder abrir quando a saudade aparecer, relembrar cada aula, cada rosto, cada palhaçada.
Pois isso ela não vai ter de volta.
A gente fala muito mesmo, mas geralmente da boca pra fora.
Eu quero cada segundo de tudo, não quero me despedir de nada, odeio despedidas. São sempre dramáticas e sentimentais, tão melancólicas. Pois bem, é fatal, o tempo definitivamente tem passado muito rápido e eu estou enrolando demais, isso é tudo, e vai ser sempre meu, já faz parte de mim.






"Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda, a gente anda pra frente E quando a gente manda, ninguém manda na gente. Na mudança de atitude não há mal que não se mude, nem doença sem cura.Na mudança de postura a gente fica mais seguro.Na mudança do presente a gente molda o futuro.."


Gabriel o Pensador