a dona dos pensamentos

sábado, 1 de outubro de 2011

Sentada no ônibus, voltando pra casa..





 O céu já estava negro, as pessoas apressavam o passo nas ruas, as portas das lojas se fechavam, buzinas  nervosas reclamavam.
Todos querem ir para casa, tirar aquelas roupas com cheiro de trabalho, aquele sapato apertado, deixar tudo de lado, os problemas no portão de casa, tomar um banho bem quente, mergulhar em baixo do cobertor, com bastante chocolate e se frustrar ao perceber que o filme na TV já foi visto no mínimo umas vinte vezes.
O ônibus vai parando, deixando uns passageiros e abrigando outros.
Alguns sentam num canto, ligam uma música calma e encaram um ponto qualquer, outros conversam sem parar, têm também os  que insistem em ser DJS, mesmo sabendo que não agradam ninguém, tem as crianças que choram sem parar, as senhoras irritadas com jovens que não dão lugar, alguém reclamando do tempo, outro dormindo, os de pé disputando espaço e os  da janela com a cabeça no mundo da lua.
Hoje eu sou um deles, me abrigo na janela e só observo.
Ouvindo Bob Dylan, segurando meu fone problemático, observo um grupo de moradores de rua, bem juntinhos, na beira de um lago, em volta de uma pequena fogueira. E por mais que todo dia pareça cansativo e a vida pareça sempre ingrata a cada um, me surpreendo ao perceber que eles estão sorrindo. O termômetro marca 9ºC, mas o vento faz com que caiam mais 4ºc, parece um sorriso de loucura compartilhado, mas não, logo percebo e me envergonho, é um sorriso de vida, é uma lição de vida, o sorriso daquelas bocas famintas celebra a vida.
Me envergonho, pois eu tenho um teto, tenho uma cama, comida, família, trabalho, estudos, dinheiro, amigos, mas mesmo assim me sinto incompreendida, acho os meus problemas os maiores do mundo, fico frustrada por ainda não ter entrado na faculdade, mal vejo meus amigos por achar que falta tempo, não consigo demonstrar sentimentos, a uns dois meses não passeio com meus cachorros, fico adiando uma faxina no meu quarto, deixo de lado as coisas que gosto. Me sinto mal por largar um livro para ver a novela.Por deixar que o mundo faça a minha cabeça em função de consumismo, padrões de beleza, me contentando com uma cultura pobre e quase 90% descartável das mídias.Por ser tão egoísta, a ponto de não me por no lugar das pessoas que me cercam, visando meus interesses primeiro. Pela  minha preguiça, meu medo de sair do casulo, acabo não vivendo, somente me protegendo e me envergonho mais ainda, por não conseguir dar uma risada assim, tão sincera e contagiante pelo simples fato de estar viva.
Olhar as pessoas que trocaram o carro, ônibus e aderiram a bicicleta como meio de transporte parece meio maluco, mas é tudo questão de adaptação, parece que a vida tem um roteiro, “regras de como viver e o que fazer”, como quando criança vai pra escola, depois faculdade, trabalho, carro, casa, família, criar os filhos, virar uma senhora com uma boa aposentadoria e depois curtir de camarote a vida indo embora.
Pessoas que não seguem estas regras são vistas com outros olhos, todos julgam, alguns apóiam, outros não, mas creio eu (não sou uma especialista da vida, longe disso), que para conseguir esboçar aquele sorriso, para realmente conseguir encontrar seus momentos felizes, a opinião dos outros deve ser totalmente ignorada, as regras de como viver devem ser apagadas da memória e costumes e assim deixar que a vida se guie por seus reais sonhos e vontades, sem ferir nem passar por cima de ninguém.
Meu ponto chegou, desço, logo estou em casa.
Respiro aliviada, agora já não estou com tanta vergonha de tudo aquilo, pois por mais defeitos que eu tenha, consigo enxergá-los, consigo tocar e limpar as feridas, sem sentir dor. Meus olhos ainda enxergam além do meu reflexo as pessoas do outro lado, meus sentimentos estão vivos, ainda que contidos e esse casulo tem seus dias contados.  As raízes começam a desprender, pois não sou uma árvore já plantada, sou apenas umas sementes, que precisam de muita água, tempo e sol para enraizar, no meio disto tudo tem a vida, a mais importante e empolgante história, que um dia vou contar.



4 comentários:

  1. muito bom a postagem...senti sentimentos na escrita....

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  2. Que lindo seu texto Shay...nao pela estetica em si,vc nao esta enaltecendo nada do que eh relativamente agradavel e mesmo assim vc conseguiu passar uma sinceridade tao grande atraves dele...ficou lindo mesmo!
    Realmente,o que nos falta eh olhar ao nosso redor e perceber que a vida de mts pessoas eh uma grande injustica e mesmo tendo o que temos reclamamos...mas isso muda ao olhar pro lado.
    Beijos e bom fds Shay..

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  3. " Bocas famintas".
    Muito bom do jeito que escreve. Já olhei alguns e por instantes senti algumas coisas como você sentiu. Parabéns pela reflexão e pelo texto.

    Um toque: Mude a cor da letra, fico um pouco cansativo de ler letras claras

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  4. repetindo a verdade nua e crua: senti seus sentimentos na escrita! Muito bom. Achei maravilhoso.

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"Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente. A gente muda o mundo na mudança da mente. E quando a mente muda, a gente anda pra frente E quando a gente manda, ninguém manda na gente. Na mudança de atitude não há mal que não se mude, nem doença sem cura.Na mudança de postura a gente fica mais seguro.Na mudança do presente a gente molda o futuro.."


Gabriel o Pensador